No dia 11 de abril de 2019, estava acontecendo a III Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT, no edifício Parque da Cidade CORPORATE, em Brasília-DF. Após o almoço, Taata Konmannanjy representante dos Povos de Terreiro e Jhonny Martins representante das Comunidades Quilombolas ficaram por um bom tempo conversando próximo à entrada do edifício citado. De repente, foram surpreendidos por mais um episódio do racismo. O Taata Konmannanjy narra o que aconteceu:
“Veio ao nosso encontro o segurança do edifício que nos abordou dizendo: “Vocês terão que sair daqui porque neste local não pode ficar pedintes.” Olhamos um para outro para ver se entendemos o que foi dito, e ele repetiu: ‘Vocês devem sair porque aqui não é lugar de pedintes, e vocês estão pedindo esmola’. Retrucamos e perguntamos quem havia dito que estávamos pedindo? Ele afirmou que foi a câmara externa de segurança do prédio e que pediram a ele que nos abordasse para que fossemos pedir em outro local. Nesse momento, nos identificamos apresentando os crachás de Conselheiros mesmo sem entender e ainda surpresos. Observamos que perto de nós, há uns três metros, tinha dois rapazes jovens também conversando, e eu perguntei se os dois rapazes também estariam pedindo. O segurança não respondeu e seguiu para o outro lado. Nós, então, entramos no prédio para retornar à reunião e vimos dois outros jovens fumando e conversando próximo à entrada. Nenhum dos quatro rapazes foram abordados. Os quatro rapazes e o segurança eram brancos. Jhonny e eu somos negros. Ao voltar para a reunião denunciamos o ocorrido para os demais membros da sociedade civil e do governo federal presentes. Demonstramos nossa indignação por estarmos no prédio onde funciona a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial-SEPPIR e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos-MDH. Denunciamos o fato como discriminação racial uma vez que os quatro rapazes que não foram abordados eram brancos e nós dois somos negros – os únicos abordados e identificados como pedintes – apesar do crachá grande que estávamos usando. O secretário do Conselho, Sr. Pedro Pontual, foi até o sindico do prédio para informar o fato e pedir providência do ocorrido. Em pouco tempo veio a nossa reunião o síndico da Torre A, que nos ouviu e aos demais membros do Conselho.
Ele pediu desculpas e disse que esta não é a orientação passada aos funcionários. Falei com ele que não tenho ódio nem raiva do segurança e que orientasse o mesmo e não passe disso, porque deveria ter família, mulher e filho, não poderia fazer parte desse momento de ódio que está sendo enfrentado o nosso país. Esta é a atual realidade que enfrentamos: nós negros não podemos mais parar e conversar em frente ao prédio luxuoso e bonito, onde está instalada a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial-SEPPIR e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos-MDH sem sermos identificados como mendigos e conclamados a nos retirar” , concluiu o Taata Raimundo Konmannanjy. Este episódio é profundamente emblemático se levarmos em conta que ocorreu no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro assinou o Decreto nº 9759 que extingue todos os Conselhos Nacionais.